Ir além do equilíbrio: manter o equilíbrio entre a mente e o coração não é suficiente quando se enfrenta os problemas da vida

O artigo a seguir é um trecho do livro “A fé não é cega” escrito por Élder Bruce C. Hafen e sua esposa, Marie K. Hafen.

“A Fé Não é Cega” oferece novos conceitos e ferramentas que nos ajudarão a aprender com experiências desafiadoras, ao invés de nos sentirmos decepcionados com elas. Este livro reconhece os temas complicados do evangelho, mas nos orienta de maneira clara e gentil aos passos necessários para trabalhar na complexidade, desenvolver um testemunho informado e nos preencher com a fé que vem de conhecer a Deus.

No sétimo capítulo do livro, “Ir além do equilíbrio” os Hafen descrevem a descoberta de que manter o equilíbrio entre a mente e o coração não é suficiente quando se enfrenta os problemas mais difíceis da vida, como uma doença terminal. O Élder Hafen conta esta história:

Um amigo, que tinha aproximadamente a minha idade, viu sua saúde se deteriorar em razão de uma esclerose múltipla. Ele gradualmente perdeu sua capacidade de andar, de ficar de pé e de se sentar.

Durante o período em que se achava acamado, sua esposa morreu de câncer. A família o levou para o funeral em uma cama de hospital. Pouco depois do funeral, fomos visitá-lo em sua casa.

Quanto mais ele falava, mais surpreso eu ficava com o espírito de paz e de luz que o cercava. Ele disse que não conseguia parar de pensar em como sua vida tinha sido afortunada — muito abençoada pela mulher com quem havia se casado, pelos filhos que o Senhor lhes dera, e por sua rica vida juntos na pequena e agradável cidade onde moravam.

Ele ria enquanto dizia o quão abençoado se sentia, pensando nas viagens do tipo “felizes para sempre” que ele e sua esposa fizeram nos primeiros anos de casamento, mesmo sem ter dinheiro para isso.

Ele falou de sua admiração pelos pioneiros que deixaram Nauvoo a fim de se estabelecerem em Utah. Lembrou-se de que muitos deles haviam recebido a investidura no Templo de Nauvoo para fortalecê-los durante sua travessia naquele terrível deserto.

Cada sinal que vinha dele era autêntico; ele não dava sinal nenhum de que sentisse pena de si mesmo. A luz em seu rosto e o espírito na sala me diziam que eu estava contemplando o sagrado processo de santificação que, paradoxalmente, parecia deixá-lo melhor mesmo em meio àquela condição física deteriorada.

Naquela noite, li em D&C 101:2–5: “Eu, o Senhor, permiti que lhes sobreviessem aflições [e] todos os que não querem suportar a correção (…) não podem ser santificados”.

Também vimos tanto os efeitos verdadeiramente difíceis, como as bênçãos santificadoras de uma grave doença em nossa neta. Seu nome era Chaya, ela nasceu com paralisia cerebral e nunca foi capaz de se alimentar, nem de caminhar, nem de falar. Sua família tinha que cuidá-la constantemente.

Ao princípio, seus pais sentiram que era uma carga muito grande cuidar tanto de Chaya. Porém, chegaram a sentir que cuidá-la era um privilégio, porque ela trazia o espírito da verdadeira caridade ao seu lar e à sua família. Apesar de sua enorme incapacidade, tinha um espírito alegre, uma risada mágica e um sorriso que iluminava o quarto. Ademais, todos os membros de sua família aprenderam a pensar mais em Chaya e em suas necessidades do que neles mesmo. Isso lhes ensinou o significado da caridade.

Quando Chaya faleceu, um pouco antes de completar 16 anos, todos os membros da família falaram em seu funeral que eram melhores pessoas graças a ela, Sim, eles haviam feito muitos sacrifícios, mas suas bênçãos eram muito maiores que os sacrifícios.

O preço da simplicidade

Estas experiências os ensinaram que a mansa e humilde simplicidade que buscamos além das dificuldades, tende a ter um preço, ainda que nem sempre esse sofrimento seja físico. O sacrifício pode adotar muitas formas e nem todas podem se explicar plenamente pela razão.

O sofrimento e morte do meu amigo e os anos de sofrimento e morte de Chaya desafiam as explicações lógicas. No entanto, fomos testemunhas de seus efeitos sagrados. Sentimos que a busca equilibrada do conhecimento, por mais valiosa que seja, pode não ser nosso último fim.

Simplesmente, saber as informações não nos santifica, não nos fará capazes de estar na presença de Deus. E nossas circunstâncias de santificação nem sempre serão racionais. Por sua própria natureza, a fé nos leva em última instância além dos limites da razão. Por isso, se condicionamos nossa fé a que seja sempre racional, podemos retroceder ante uma experiência de santificação e, por tanto, não descobrir o que a experiência poderia ensinar. 

Ainda que ceder a essas experiências transformadoras é necessariamente um salto de fé, não podemos chegar até esse ponto até que tenhamos caminhado tudo o que a luz da nossa busca de conhecimento nos permita.

Ao mesmo tempo, toda uma vida tentando entender a mortalidade, especialmente nos dias em que parece ter pouco sentido, pode nos dar a experiência que necessitamos para desenvolver nossa santificação.

Valorizar a razão e a fé

Na posição equilibrada de aceitar tanto o ideal como o real, valorizamos a razão. No entanto, também valorizamos nossa fé na autoridade de Deus. E não queremos voltar a uma simplicidade tão inocente que exclua por completo a razão ou a fé. Porém, a simplicidade além da complexidade nos convida a perceber que um foco equilibrado não é suficiente.

Quando somos levados ao limite de nossas capacidades, alcançamos um novo nível que nos permite aproveitar plenamente nossas raízes hebraicas e o poder expiatório de Cristo.

O sacrifício consagrado de um coração quebrantado e um espírito contrito nos abençoa com uma visão mais profunda, nos levando a uma esfera mais alta do que o simples equilíbrio pode nos elevar, ainda que o fato de estar sobre essa base equilibrada nos ajuda a chegar mais alto.

A simplicidade além da complexidade não nos pede que renunciemos a nada de valor em nosso raciocínio, ainda que reconheçamos os limites da razão.

Desde este ponto de vista mais elevado, necessitamos uma indagação ainda mais rigorosa, especialmente sobre como alimentar os assuntos da eternidade.

Ter fé e esperança

Nesse nível de simplicidade madura, ser um verdadeiro discípulo não tem relação tanto com o que fazemos ou como pensamos, se não com o que somos e em que nos tornamos. Deste modo, as difíceis provações que enfrentamos ajudarão nossa fé a se fortalecer, a amadurecer.

Não temos que esperar ter uma doença terminal para levar a sério as questões da eternidade. Agora, podemos sentir a emoção de acelerar nosso passo enquanto corremos de encontro ao Salvador.

Agora, podemos acelerar nosso desejo de viver mais perto dessa presença eterna, para que Ele possa nos preparar melhor para qualquer outra complexidade da santificação que nos espere.

Como João e Pedro quando se encontraram de novo com Cristo ressuscitado (João 16:18-20), nos encheremos de fé e esperança depois de superar os medos racionais e nos encontraremos finalmente com o Senhor ressuscitado porque fomos o suficientemente fiéis. Quando o encontrarmos assim, falaremos da resolução definitiva de todas nossas complexidades.

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Também, você pode acessar o site faithisnotblind.org (em inglês) e ouvir os podcasts exclusivos sobre esses assuntos. Se desejar, pode acessar os mesmo podcasts no YouTube e assisti-los com legendas em português, basta seguir os passos:

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